Brasil encolhe 3,8% em 2015, pior resultado em 25 anos

3038 Jornal O Avaré 04/03/2016 10:54:09

Taxa de investimento encerrou ano passado a 18,2% do PIB, a menor desde 2007
 
 
A economia brasileira encolheu 3,8 por cento em 2015, o pior resultado desde 1990, com contração recorde nos investimentos e na indústria, sinalizando que uma recuperação está ainda longe em meio ao quadro de baixíssima confiança generalizada e crise política.
 
 
Só no quarto trimestre de 2015, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 1,4 por cento sobre os três meses imediatamente anteriores. Sobre o quarto trimestre de 2014, a atividade despencou 5,9 por cento.
 
 
Pesquisa da Reuters apontava queda de 1,5 por cento entre outubro e dezembro na comparação trimestral e de 6 por cento sobre o quarto trimestre de 2014. Para 2015, as contas indicavam recuo de 3,8 por cento
Em 2014, o PIB cresceu apenas 0,1 por cento, número que não foi revisado pelo IBGE.
 
 
"O resultado (de 2015) reflete o quadro de desconfiança que vivemos. Os fatores que fizeram o PIB cair em 2015 não alteram em 2016", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, cujo cenário é de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff não se materialize. "Mas o governo continua paralisado e acuado", acrescentou.
 
 
O país vive uma profunda crise econômica e política, em meio ao cenário de inflação de dois dígitos, desemprego e juros elevados, que tem abalado ainda mais a confiança dos agentes econômicos e colocado desafios cada vez maiores para a presidente, sobretudo no campo fiscal.
 
 
Queda generalizada
 
 
No quarto trimestre, o PIB encolheu em praticamente todas as frentes, com forte destaque para os investimentos produtivos. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixa (FBCF) despencou 4,9 por cento no trimestre passado, comparado com o terceiro trimestre. E em 2015 todo, a retração foi de 14,1 por cento, pior desempenho da história.
 
 
Com isso, a taxa de investimento encerrou o ano passado a 18,2 por cento do PIB, a menor desde 2007 (18 por cento).
 
 
A indústria caiu 1,4 por cento no quarto trimestre sobre o imediatamente anterior, mesma queda registrada pelos serviços. No ano, o recuo foi de 6,2 e 2,7 por cento, respectivamente, ambos também recorde.
 
 
O consumo das famílias teve queda de 1,3 por cento no trimestre passado, sobre os três meses anteriores, enquanto o consumo do governo contraiu 2,9 por cento. No ano, as quedas foram de 4,0 e 1,0 por cento, respectivamente.
 
 
"(A queda no) consumo das famílias foi recorde e está diretamente ligada aos juros mais altos, renda menor e inflação mais salgada", afirmou a economista do IBGE Rebeca Palis.
 
 
Apenas a agropecuária cresceu em 2015 e no quarto trimestre: 1,8 e 2,9 por cento, respectivamente.
E o setor externo, por conta da forte valorização do dólar frente ao real --de quase 50 por cento em 2015--, também pesou positivamente na economia brasileira, com contribuição de 2,7 por cento, segundo o IBGE, a primeira positiva desde 2005. Mas a demanda interna teve peso negativo de 6,5 por cento, algo que não acontecia desde 2003.
 
 
"Não há motor de crescimento na economia brasileira ainda, o único motor que a gente tem são as exportações, mas a economia brasileira é fechada então a gente não vê o setor externo como solução para nos tirar do buraco", avaliou o economista da Nomura Securities para América Latina João Pedro Ribeiro.
Pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostrou que a projeção é de que a economia brasileira continue recuando neste ano (-3,45 por cento), com leve recuperação a partir de 2017, com crescimento de 0,5 por cento.
 
 
Com a economia cada vez mais anêmica, a necessidade de austeridade fiscal maior para estabilizar a dívida do país cresceu bastante. Pesquisa Reuters mostrou nesta semana que, agora, os economistas consultados acreditam que é preciso ter superávit primário de 2,8 por cento do PIB para isso e que a economia brasileira voltará ao nível pré-recessão apenas em 2019.
 

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