Morre a dama da música caipira

4229 Jornal O Avaré 09/03/2015 08:55:13

A cantora Inezita Barroso faleceu neste domingo (8) na capital no Hospital Sírio Libanês; ela também apresentava há 35 anos o programa “Viola, Minha Viola”

 

 

A música caipira está de luto novamente, após a morte no início da semana passada do cantor José Rico que fazia dupla com Milionário, morreu neste domingo (8) à noite na capital a cantora, atriz, instrumentista, folclorista e professora Inezita Barroso aos 90 anos. Ela apresentava há 35 anos o programa “Viola, Minha Viola” na TV Cultura, espécie de tribuna em defesa da música sertaneja de raiz. A cantora deixa uma filha, Marta Barroso, três netas e cinco bisnetos.


Ela estava internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 19 de fevereiro. Ela completou 90 anos na última quarta-feira.

Em dezembro do ano passado, Inezita sofreu uma queda da cama na casa de sua filha na cidade de Campos do Jordão. Os bombeiros foram chamados e conduziram Inezita ao Pronto-Socorro do Hospital Municipal da cidade.

Ela foi atendida pelo doutor Marcio Stievano, diretor do PS, que pediu exames de radiografia que não detectaram nenhuma lesão. “A liberamos logo em seguida, ela saiu do hospital em carro próprio”, disse o médico. “Mas pedi que a família nos procurasse se alguma dor surgir. Às vezes as quedas podem ser sentidas com mais intensidade nos dias seguintes”.

A artista é considerada uma das principais cantoras da música sertaneja brasileira. Ela nasceu em São Paulo e fez carreira no rádio e na televisão.

Ela sempre manteve uma opinião contra a modernidade no gênero e chama a safra atual de “sertanojo”. “A verdade é que esse pseudo sertanejo atual é música inventada pela indústria, sem raiz, paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o mesmo ritmo! Um modismo”, desabafa.

Família paulistana

Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares.

Inezita cresceu entre a cidade e o campo, onde passava suas férias escolares. Essa variedade de cenários se refletia nas diferentes experiências musicais às quais era submetida. Nas temporadas longe da cidade grande, havia uma imersão na música caipira, que entrou na sua vida para não sair mais. Já na casa do avô Filadelfo, escutava os discos de música clássica que ele tanto amava. Sem contar no bolero mexicano, paixão dela que seu pai alimentava comprando discões de 78 rotações de cantores mexicanos. “É uma coisa engraçada, porque todas as referências se misturavam mesmo. Não pensava em gêneros opostos, pensava em música. A clássica, a viola caipira, as modinhas, as serestas e até os mexicanos”, contou em uma entrevista em novembro de 2014.

Para ela, sua música acabou por refletir uma diversidade de influências, mas fez escolhas. “Cantei apenas música popular brasileira. Tanto aquela pura do folclore, também aquelas populares baseadas nas lendas folclóricas e ainda as apenas populares, feitas por ótimos compositores. Ouvir e conhecer música assim diferente foi essencial para escolher o que e como fazer a minha obra.”

Ela foi a primeira cantora a gravar a música Ronda, clássico da fossa de Paulo Vanzolini. Mas no seu repertório nunca deixa de constar a célebre Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres. E, em novembro de 2014, foi eleita para a Academia Paulista de Letras.

Além da cantora, Inezita foi instrumentista, arranjadora, folclorista e professora. Em cerca de 60 anos de carreira, gravou mais de 80 discos. Iniciou a sua carreira artística junto com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois, passou pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o “Viola, Minha Viola”, onde apresentava desde os anos 1980.

Ela contou uma ocasião que decidir cantar após assistir ao show de Carmem Miranda e encarou a resistência que sofreu dos pais “caretas”. Casou-se em 1947, aos 22 anos, com o advogado Adolfo Cabral Barroso, mas o relacionamento, ela enfatiza, teve “prazo de validade” de 10 anos. Namorou pouco depois. “Uns seis namoros não muitos longos”, observa.

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