Polícia Federal desmonta quadrilha do tráfico após 6 meses de investigação

19393 Jornal O Avaré 03/04/2014 08:32:53

Polícia Federal desmonta quadrilha do tráfico após 6 meses de investigação
 
 
 
Bando era altamente organizado e trazia droga do Paraguai com o uso de aviões
 
 
 
 
Após seis meses de investigações, que tiveram origem a partir da morte do agente Fábio Ricardo Paiva Luciano, em Bocaina (69 quilômetros de Bauru), a Polícia Federal (PF) conseguiu identificar integrantes de organização criminosa que tinha ramificações em vários estados do País e no Paraguai. No total, 24 pessoas foram presas. Outras seis estão sendo procuradas. O grupo teve bens apreendidos e contas bloqueadas. Entre os detidos estão empresário, advogado e um homem preso no ano passado, em Bauru, com 500 mil dólares escondidos dentro de caminhonete Hilux (leia abaixo).
 
 
 
Nesta quarta-feira (2), o delegado-chefe da PF em Bauru, Carlos Alberto Fazzio Costa, convocou uma entrevista coletiva para apresentar os resultados da operação, batizada de “Paiva Luz” em homenagem ao agente morto em 25 de setembro de 2013. 
 
 
 
Nos últimos seis meses, segundo Costa, agentes da unidade, coordenados pelo delegado Ênio Bianospino, montaram base na Capital para integrar informações relativas à organização criminosa vindas de várias fontes policiais. Bianospino explica que, a partir desse trabalho de inteligência, a PF identificou diversas pessoas que participaram direta ou indiretamente da troca de tiros com os agentes em Bocaina. “A investigação aponta definitivamente quem era o fornecedor da droga e a origem dela”, declara.  Os mandados de busca e de prisão foram expedidos pela Justiça Federal de Jaú.
 
 
 
De acordo com o delegado, o paraguaio José Luis Bogado Quevedo, que está sendo procurado, é o fornecedor da droga e o proprietário do avião incendiado em Bocaina. O “líder” do grupo seria Adriano Aparecido Mena Lugo, preso nesta quarta-feira, que mora em Ponta Porã e representa o traficante no Brasil, intermediando a venda do entorpecente. Vágner Maidana, cunhado de Adriano, é apontado como “sócio” e “braço direito” dele nas transações em território nacional.
 
 
 
O piloto da aeronave preso em 25 de setembro é Evandro dos Santos. Alex Chervenhak foi identificado como o comprador de Campinas. Ele e Maicon de Oliveira Rocha, segurança de solo que trocou tiros com agentes em Bocaina, estão foragidos. Outros dois seguranças de solo identificados são Marcos da Silva Soares e Adriano Martins Castro, que também trocaram tiros com a PF e foram presos em flagrante. O último tinha a função de checar a segurança da pista de pouso.
 
 
 
Segundo Bianospino, Natalin de Freitas Junior recrutava os criminosos para fazer o apoio de solo, trabalho que era liderado por Márcio dos Santos. Os dois também estão presos. Os trabalhos prosseguem para tentar identificar quem foi o autor do disparo que resultou na morte de Luciano. 
 
 
 
Ramificações em vários Estados
 
Além dos cinco presos em flagrante em Bocaina, desde setembro, de acordo com o delegado, 13 pessoas que transportavam entorpecente para a mesma organização criminosa, as conhecidas mulas, foram presas. “Nós também fizemos oito flagrantes só com remessas de droga dessa mesma organização”, afirma.
 
 
 
Nos últimos seis meses, foram apreendidos cerca de 400 quilos de entorpecentes nos Estados da Bahia, Mato Grosso do Sul e São Paulo, a maior parte de cocaína. No Paraná, a PF apreendeu 355 mil euros, equivalente a R$ 1,1 milhão. A suspeita é de que o dinheiro seria usado para pagar remessa de droga apreendida em Guarujá. 
 
 
 
Nesta quarta-feira, 100 agentes federais foram deslocados para o cumprimento de 12 mandados de prisão em vários estados e outros seis integrantes da mesma quadrilha acabaram detidos. Seis pessoas continuam foragidas. 
 
Dólares
 
Em abril do ano passado, Adriano Aparecido Mena Lugo foi preso pela Polícia Federal de Bauru com US$ 512,122 mil, o equivalente a mais de R$ 1 milhão.  O dinheiro estava escondido na lataria de Hilux, abordada pela Polícia Rodoviária de Agudos no km 314 da Marechal Rondon. Além de Mena Lugo, proprietário do veículo, foram presos o casal L.D.S., 26 anos e C.O.P., 33 anos. Ele alegou que levaria os dólares para uma casa de câmbio no Paraguai. 
 
 
Relembre o caso
 
No dia 25 de setembro do ano passado, por volta das 21h30, policiais federais interceptaram monomotor Cessna, modelo 210, que iria pousar às margens da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-255), no quilômetro 136, em Bocaina. 
 
 
 
O avião, que estava carregado com cerca de 500 quilos de droga, provavelmente pasta base de cocaína, caiu e pegou fogo. Nesta quarta-feira, a PF confirmou que o entorpecente foi retirado da aeronave pelos traficantes antes da queda da aeronave. A quadrilha que aguardava a chegada da droga trocou tiros com os agentes e Fábio Ricardo Paiva Luciano, 38 anos, lotado na PF de Bauru, levou um tiro no peito, provavelmente de fuzil, foi socorrido, mas morreu no Pronto-Socorro de Jaú.
 
Poucas horas depois, a PF prendeu três homens e uma mulher que fariam parte do grupo criminoso, entre eles o piloto da aeronave, que estava ferido. Na manhã seguinte, outro acusado foi preso quando tentava pegar carona na rodovia. No dia 28 de setembro, a mulher conseguiu liberdade provisória. Os demais tiveram pedidos de liminar em habeas corpus negados pelo Tribunal Regional Federal e permanecem presos. Em novembro, o MPF ofereceu denúncia à Justiça Federal de Jaú contra os envolvidos pelos crimes de tráfico internacional, posse e porte de arma de uso restrito e organização criminosa. 
 
Novo inquérito apurará crimes
 
Com o fim das investigações e a identificação dos integrantes da quadrilha, o delegado Ênio Bianospino revela que os trabalhos entram em uma nova fase – a instauração de inquérito policial para apurar os crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e ocultação de patrimônio. Entre quarta e terça-feira, agentes federais cumpriram mandados de busca em 21 endereços nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Bahia e apreenderam veículos importados, jet skis, lanchas, aeronaves, joias, além de sequestrarem dois postos de combustível. A Justiça Federal em Jaú também bloqueou as chamadas “contas de passagem” do grupo, usadas para lavar dinheiro. 
 
 
 
Segurança terceirizada
 
Para a Polícia Federal, a quadrilha que trazia a droga de avião do Paraguai “contratava” criminosos de outros ramos para que a entrega da carga ao comprador fosse feita com segurança. “Era, na verdade, um grupo de assaltantes contratado pelos traficantes para, com uma atuação muito violenta, obstar a ação estatal e tornar possível a consumação do tráfico de drogas”, explica o delegado Ênio Bianospino.
 
 
 
“É uma organização bem estruturada, com divisão de tarefas, liderança bem definida e muito capitalizada. Nessa estrutura, verificamos que eles são dotados de sistema de comunicação eficiente, rápido e encriptado, o que dificulta nossa atividade de fiscalização” , disse o delegado.

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